Natal de Tradições

Lembro-me de um Natal de Tradições e uma época natalícia que me traz a saudade.
Na creche da Tranemo, empresa têxtil onde a minha mãe trabalhava, as últimas semanas eram passadas a fazer decorações de natal, desenhos e a elaborar a lista de presentes. Havia sempre uma festinha para as crianças que as educadoras de infância organizavam com todo o amor e carinho. Em todos onatais o Pai Natal, que mais tarde descobrimos ser o Sr. Valentim que trabalhava no escritório, descia a chaminé com os presentes para os meninos. Eram pequenas lembranças, mas que traziam a magia para todas crianças, juntamente com muita alegria e amor.

Seguiam-se duas semanas de férias da escola e da creche e era altura de regressar à Terra Natal para a consoada. Regresso às origens, Ermidas Aldeia, na freguesia de Ermidas-Sado, Concelho de SantiagodoCacém. 

A família reunia-se na “casinha do lume”, na casa dos meus avós maternos – O Avô Figueira e a Avó Glória – que tinha uma enorme lareira acesa com lenha colocada sobre o chão cor-de-tijolo. Sentávamo-nos todos à voltanaquelas cadeiras e bancos típicos alentejanosde assento em corda e pintadas à mão (que engraçado lembrar-me deste pormenor). Faziam-se torradas ao lumeque tinham aquele sabor especial e único, e tomava-se um chá para acompanhar. Havia bolo rei, filhoses e biscoitos caseiros em forma de “e”. Assim passávamos o serão a conversar até à hora de abrir as prendas de natal, à meia-noite em ponto.  

Os presentes eram simples, mas que tinham sempre significado para nós. E se há prendas que me lembro de querer muito era “A Minha Agenda” (recordam-se do anúncio na TV e do jingle?) , que era uma agenda estilo diário, onde provavelmente queria contar os meus segredos e registar os acontecimentos mais importantes. Certo Natal, finalmente, recebi-a de presente do meu tio Dário! 

Mas a tradição de Natal na casa dos meus avós não ficava por aqui. No dia seguinte a família, amigos e vizinhos reuniam-se para a tradição da “matança do porco”. Todos vinham ajudar e cada um tinha o seu papel, a sua função (até eu!). Esta “reunião” era o exemplo de espírito de entreajuda, amizade, compaixão e de como é importante construirmos laços nas comunidades onde estamos inseridos. Afinal, hoje ajudamos alguém. Amanhã, quando precisarmos, de certeza que seremos igualmente retribuídos. 

Dia 25 de dezembro começava numa agitação logo bem cedo, às oito da manhã. Eu acordava, despachava-me e vestia uma roupa prática (assim… bem velhinha e com várias camadas por causa do frio) e claro, calçava umas galochas porque era importante para a minha “missão”. E qual era afinal? Alguém adivinha? Pois bem… eu era “especialista” a lavar as tripas e a picar a carne para os enchidos! E esta hein?! Bem… isto dito assim parece não ter graça nenhuma, mas era muito, mas mesmo muito divertido! (risos) 

Tenho saudades destes tempos… dá-me um aperto no coração.
Hoje o Natal já não tem esta magia. Já não tem “casinha do lume”, nem o conforto das torradas à lareira e do pão com manteiga e açúcar da avó. Já não estão presentes aqueles que seriam o meu Maior Presente de Natal.

A minha vida já deu muitas voltas. Ganhei família… perdi família… por isso hoje vivo o natal de outra forma…
Hoje já não compro presentes (recuso-me a aderir ao consumismo desenfreado) e nem quero receber.
Estou presente e quero a presença das pessoas mais importantes da minha vida, incluindo o mais recente membro Fofinho (pois claro!).

Mas tenho esperança que um dia seja possível renascer a Tradição da Família. De uma outra forma, é certo, mas que possamos manter viva a memória daqueles que já não estão presentes, honrando o seu legado de Amor e conceito de Família que deixaram aqui entre nós.

Votos de um Feliz Natal!

Ana

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