Querido Pai – parte II

(continuação…)

Pai,

Recordas-te do tempo em que quase todos os fins-de-semana eu ia cantar a algum lado? Uma festa de uma rádio, uma sessão solene de um clube recreativo e desportivo, ou até mesmo um espetáculo em “nome próprio”. Era um dia bem agitado! Não era?!

A mãe ajudava-me a escolher a roupa e tu, pelo caminho, perguntavas-me: “O que vais cantar?”
Eu tinha passado a tarde a ensaiar, fazendo uma passagem pelas músicas (para não me esquecer das letras!) e a preparar o alinhamento. Organizava as cassetes e colocava-as na malinha, pela ordem de apresentação. (Sim! Eu sou do tempo das cassetes e também usava as canetas BIC, passando a publicidade, quando reparava que me tinha esquecido de rebobinar!). Eu sei que tu me ouvias enquanto ensaiava, mas mesmo assim fazias questão de confirmar.

E assim, pelo caminho, ia te contando as canções e, de vez em quando, ias dando as tuas sugestões. Sabes o que me lembrei no outro dia? Tu fazias sempre questão de me dizer: “Filha, não te esqueças de agradecer ao Sr. “Manel”, o técnico de som, ao Sr. Presidente da Junta de Freguesia/Câmara, e também à Dona “Maria”. Ninguém poderia ficar esquecido!

Eu hoje sei de onde vem a minha “Regra de Ouro”! Aprendi contigo, Pai!
Ensinaste-me o quanto é importante agradecermos a quem nos ajuda, a quem nos estende a mão e nos dá uma oportunidade. Agradecer a quem se junta e trabalha connosco na concretização dos nossos sonhos e objetivos. Que um ‘Obrigada’ faz toda a diferença! Não é assim, Pai?

Recordas-te das “Noites de Fado”? Não tens saudades destes momentos?

Sei que estás desiludido com o mundo da música. Eu sei e compreendo o porquê! Foi por este motivo que guardei segredo, durante quatro anos, sobre o meu Álbum “Essência”. Não te contei, nem te cantei as minhas canções! Acredita que foi por Amor! Quis resguardar-te. Não valia a pena criar expectativas (que até poderiam sair frustradas) e, poder “reacender” histórias antigas. (E ainda bem que não tens Facebook, caso contrário não seria possível guardar este segredo por tanto tempo! E foi mesmo até à última! Ufff! Foi por pouco!).

E com muito orgulho, no dia 25 de dezembro 2018, dia de Natal, te presenteei com a minha “Essência”, o meu maior sonho e que outrora também foi teu. Mas… Posso confessar-te uma coisa? Eu esperava outra reação… Pensei que fosses ficar eufórico, alegre, entusiasmado e de lágrimas nos olhos. E tu ainda me perguntaste: “É um CD com as músicas que costumas cantar nas cerimónias?”

Eu sei que não foi por mal. Acho que já nem te passava pela cabeça um álbum meu.
Por aqui conclui, que quem tinha criado toda uma expectativa à volta do dia em que te entregaria em mão a minha “Essência”, fora eu. Outra conclusão:

A minha “Essência” foi mais que perseguir um Sonho. Foi o Honrar um nome, uma família, a minha, a nossa Família!

Foi por nós, Pai! E estou tão feliz e orgulhosa! Conseguimos!
É a prova que tu e a mãe fizeram um trabalho extraordinário comigo e com o mano. Nós aprendemos com vocês a nunca baixar os braços, arregaçar as mangas e ir “à luta”! Aprendemos que, mesmo após as «quedas, tropeções e lágrimas», a vida continua! Que é preciso acordar no dia seguinte de cabeça erguida e continuar a trabalhar, com determinação e foco no que realmente é importante.

Por tudo isto e muito mais, Pai:

Muito Obrigada!

Da tua filha que te ama, do fundo do coração.

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